Texto: Wilix Gabriel – Delegado de Polícia Federal
Foto: Reprodução/Medium
Hoje o tema não é direito, leis ou indignações, aliás, ainda um pouco disso.
É o tema recorrente entre a turma do “no meu tempo era melhor” ou no pessoal do “Não se faz mais como antigamente”.
A música é libertadora e, por si só, subversiva, existe justamente para surpreender e fazer a gente evoluir. Desde de a década de 60 com Mutantes, Secos e Molhados e o arranjado da Tropicália, já tinha gente estranha em festas esquisitas.
Pessoal mais tradicional não via com bons olhos e justamente isso, esse pequeno ponto, esse pequeno ponto de vista, essa fração de pensamento que me assusta. Explico:
Sem citar nomes ou órgãos genitais específicos, vemos de norte a sul do país a completa despudorização, quanto mais explícito melhor. O que antes ainda se tentava esconder, deixar como humor ou nas entrelinhas, hoje é puro Kama Sutra em notas musicais.
Lembro de ouvir crianças de 5 ou 6 anos de idade cantando “Fui convidado para uma tal de suruba…” pulando e felizes, sem saber o que RAIOS é isso… Tá bom, confesso, eu fui uma dessas crianças, inclusive, tinha a maior vontade de comer um tatu, pra ver se era bom mesmo ou se daria dor nas costas – algum efeito adverso da talvez saborosa carne do animal. Por sinal, fica a dica Hollywood: um filme de um Robocop LGBTQIAPN+ seria estouro de bilheteria.
Também não tem como esquecer (lá ele) do pau que nasce torno, que para o Gera Samba/Tchan nunca se indireita e para outros mija fora da bacia.
Poderia citar várias outras bandas, duplas sertanejas, bandas de rock e etc. que brincavam com as palavras, com a ironia e com a inocência do público. E, óbvio, como você, musical e crítico leitor, está esperando, traçar um paralelo com a nossa atual “música” (e aqui já tô ligado que ganhei você por colocar o termo musica entre aspas, pois, ao que tudo indica, estamos do mesmo lado intelectual e saudosista).
Não sei quando começou, só sei que comecei a ouvir pequenas farpas/lampejos do que viria a ser esse desbunde, quando tomei consciência da banda Blackstyle pagofankando as letras de funk do Rio de Janeiro, Lá Fúria fazendo música com qualquer acontecimento e dando um jeito de introduzir a palavra “senta” para absolutamente tudo, até chegar ao cúmulo de ouvir em uma festa infantil a música dizer “Coloca a p. na boca” e essa mesma juventude, carregada por uma geração de adultos infantilizados/rede socializados fazendo suas danças… Enquanto uns dançam somente com as mãos em movimentos de passa a mão em volta da cabeça, passa o dedão perto do canto da boca e coloca dois dedos com chifre na cabeça, outros, como diz um amigo meu, fazendo uma “dança” que é só sexo simulado.
Evitando reproduzir as palavras aqui, trago para ao amável e curioso leitor uma canção da “A Travestis” (não digitei errado, é com erro no plural mesmo) basta clicar aqui e literalmente se impressionar: “música”.
Na Bahia foi editada a lei antibaixaria (Lei 12.573/12) que proíbe a utilização de recurso público estaduais para contratação de artistas que, no cumprimento do objeto do contrato, apresentem músicas que desvalorizem, incentivem a violência ou exponham as mulheres a situação de constrangimento, bem como manifestações de homofobia ou discriminação racial, bem assim apologia ao uso de drogas ilícitas (achou que não iria ter direito, né?).
Os tempos mudam, as coisas evoluem, uns dizem que para melhor e outros para pior, as pessoas começam a ter mais acesso à informação e a internet, como diz Karnal, trouxe uma coisa boa e uma coisa ruim: a boa é que todo mundo pode dar sua opinião e a ruim é que todos podem dar sua opinião.
Essa é minha opinião, não tenho paciência e vontade de ouvir essas músicas de sexo explícito.
Mas será que eu tô ficando velho e chato? Será que eu sou hoje o “pessoal tradicional” de antes? Será que isso é a evolução? Será que A Travestis, Lá Fúria, BlackStyle e o Erótico hoje são os Mutantes, Secos e Molhados de outrora?